SHEMA ISRAEL

Sinagoga Morumbi

Yeshiva Boys Choir -- Kol Hamispalel

domingo, 25 de março de 2012

A Grandeza da Humildade Por Aryeh Citron


Quando D'us chamou Moshê para entrar no Santuário pela primeira vez, o versículo declara:1 Vayicrá el Moshe, “E D'us chamou Moshê.” A palavra Vayicrá está escrita com um pequeno alef, e o Baal HaTurim, em seu comentário sobre este versículo, diz que Moshê escreveu o alef menor que as outras letras, por humildade. Embora Moshê fosse destacado entre todos os judeus e escolhido para comunicar-se diretamente com D'us, ele minimizou a importância disso escrevendo a palavra como se fosse vayikar – “e D'us aconteceu sobre Moshê.”2

Moshê foi a pessoa mais humilde na face da terra.3 Certamente Moshê sabia que era o escolhido por D'us para redimir os judeus do Egito, para abrir o mar, para receber a Torá, e para levar os judeus através do deserto.

Apesar disso, Moshê continuou humilde porque pensava que se alguém mais tivesse nascido com as mesmas qualidades que ele possuía, aquela pessoa teria superado suas próprias realizações. No mesmo tom, Rav Yossef, um sábio talmúdico, disse sobre si mesmo que era um homem incomumente humilde, a par com as pessoas extremamente humildes das gerações anteriores.4 Embora ele reconhecesse a própria humildade, não se diminuiu.5

A importância da humildade

Sobre humildade e arrogância, está escrito:6
Se alguém é humilde, é como se tivesse oferecido todos os sacrifícios.7
D'us responde às preces de uma pessoa humilde.8
Aquele que é humilde está perto de D'us (i.e., D'us reside dentro dele).9
Apesar do fato de Moshê ser notável em profecia, Torá e sabedoria, a qualidade que D'us julgou apropriado mencionar na Torá foi sua humildade.10
Alguns são da opinião de que a verdadeira humildade é o nível espiritual mais elevado que pode ser alcançado.11
Por este motivo, Yeshayahu se refere ao povo judeu como “os humildes”.12
Aquele que se eleva (i.e., se comporta com arrogância), D'us o trará para baixo. Sempre que alguém se rebaixa (i.e., se comporta com humildade), será elevado por D'us.13
O temor a D'us é considerado uma “coroa” para sabedoria (i.e., um nível mais alto que a sabedoria), mas é uma “sandália” (i.e., um estágio preparatório) para a humildade.14
Quem merece o Mundo Vindouro? Aquele que é humilde, se posta com humildade, caminha humildemente e estuda Torá constantemente – porém não aceita o crédito para si mesmo.15
D'us escolheu o povo judeu por causa da sua humildade e da humildade dos Patriarcas.16

Atingindo a Humildade

Uma das maneiras de se atingir a humildade é contemplar o fato de que viemos de uma mera gota, e que terminaremos por retornar ao pó.17 Os mestres chassídicos explicam que quanto mais alguém é anulado perante D'us, mais humilde se torna face à infinita grandeza de D'us.18 E especificamente quando uma pessoa experimenta a bondade de D'us, ele deveria sentir-se humilde.19

A Extensão da Humildade

Embora geralmente a pessoa deva se esforçar rumo à média em todos os traços de caráter (ex., não deveria ser avarento nem doar tudo que possui), no traço de humildade a pessoa deve ir ao extremo e ser completamente consciente. Como ensinou Rabi Levitas de Yavne: “A pessoa deve ser inexcedivelmente humilde.”20 De modo semelhante, Rabi Nachman bar Yitzchak disse: “Não se deve ter [arrogância], nem mesmo um pouquinho.”21

Essa qualidade era exibida por Hillel que, apesar da sua estatura como líder do Sanhedrin, respondia pacientemente as perguntas de todos, mesmo se fossem feitas em horas inoportunas.22

Sinais de Humildade

Há muitos sinais da verdadeira humildade. Alguns deles são: Se você consegue perdoar alguém que agiu mal com você, embora você tenha o poder de se vingar. Como diz o versículo: “Não diga: ‘Assim como ele fez comigo, farei a ele; pagarei o homem de acordo com o seu ato.’”23

Se tempos difíceis se abatem sobre a pessoa, ela deveria humildemente aceitar o julgamento de D'us com amor, sabendo que por algum motivo merece essa dificuldade. Como declarou o Profeta Amos: “O sábio naquela hora deve se manter silente.”24

Mesmo que alguém receba homenagem de outras pessoas, deve acostumar-se a permanecer humilde. Nosso Patriarca Avraham se comportava dessa maneira. Quando os hititas de Hebron lhe disseram: “Você é um príncipe de D'us entre nós,”25 ele se inclinou na frente de todo o povo daquela terra.26

Mesmo que uma pessoa atinja um alto grau em sabedoria, riqueza ou poder, deveria permanecer humilde e continuar se comportando como fazia antes. Como disse o Rei Shelomô: “Se o espírito do governante ascende sobre ti [i.e., se você é elevado a um cargo de honra pelo rei], não deixe seu lugar [posição prévia de humildade].”27

Se uma pessoa vê o sofrimento se abatendo sobre ela, deve imeditamente se arrepender de seus erros e não adiar isto por causa da arrogância. Quando Ezra repreendeu os antigos exilados babilônicos pelos seus pecados, eles se arrependeram imediatamente.28

Alguém que é realmente humilde dividirá suas posses com outros, porque não se sente merecedor de levar uma vida de riqueza enquanto outros levam uma vida de privação. Nosso Patriarca Avraham se comportava dessa maneira. Ele foi o paradigma da humildade, pois disse: “Eu sou pó e cinzas.”29 Ele também distribuía livremente sua riqueza aos outros.30

Os Efeitos da Arrogância

Se alguém é arrogante, D'us diz: “Eu e ele não podemos habitar juntos.”31 D'us “despreza” aqueles com um coração arrogante.32 O Talmud diz33 que o pecado da arrogância pode ser comparado a muitos pecados graves. Quando alguém é arrogante, é considerado como se ele estivesse:
1 – Servindo a ídolos
2 – Negando o Criador
3 – Engajando-se em relações sexuais proibidas
4 – Construindo um local de idolatria fora do Templo Sagrado

Devido à arrogância, até um homem que caso não a tivesse tem de sofrer a experiência do purgatório.34
Na verdade, ele não é merecedor de ser ressuscitado na época da ressurreição.35
Quando D'us concede grandeza a uma pessoa, Ele pretende que isso se estenda a todos os seus descendentes. Mas se ele se torna arrogante, D'us o rebaixará.36
A arrogância de Jeroboam (o primeiro rei das dez tribos do norte] causou sua morte.37
Se um homem sábio se torna arrogante, a sabedoria lhe será tirada. Se um profeta se torna arrogante, ele perderá sua profecia.38
Os reis não-judeus Faraó, Senacherib, Nebuchadnezzar e Hiram, todos perderam seus reinos como resultado da arrogância.39
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NOTAS
1. Vayicrá 1:1
2. Veja Pit’chei Teshuva, Yoreh De’ah 274:7, que se um escriba muda o tamanho da letra, escrevendo este alef num tamanho comum, a Torá continua casher.
3. Bamidbar 12:3
4. Talmud, Sotá 49b
5. Veja Licutê Sichot vol. 1, págs. 279-281, e vol. 13, págs. 33-34
6. Grande parte deste artigo é baseado na Sétima Vela na Menorat HaMa’or por Rabi Yitzchak Abohav.
7. Talmud, ibid. 5b
8. Ibid.
9. O Talmud (ibid.) enfatiza o fato de que D'us escolheu repousar Sua presença no Monte Sinai, e não em outras montanhas – mais altas e mais verdes, por causa da sua humildade.
10. Maimônides em seu comentário sobre Ética 4:4. Veja Bamidbar 12:3
11. – Rabi Joshua ben Levi em Talmud, Avodá Zará 20b
12. Yeshayahu 61:1
13. Veja Talmud, Nedarim 55a
14. Midrash Rabbah, Cântico dos Cânticos 1:1:9
15. Talmud, Sanhedrin 88b
16. Baseado em Talmud, Chulin 89a
17. Veja Ética 3:1
18. Ohr Há Torah, Eikev, págs. 575-6. Sefer HaLikutim, Ayin, pág. 315
19. Tanya, Igueret HaKodesh 2
20. Ética 4:4. Veja comentário de Maimônides sobre esta passagem.
21. Talmud, Sotá 5a
22. Talmud, Shabat 30b
23. Provérbios 24:29
24. Amos 5:13
25. Bereshit 23:6
26. Ibid. versículo 12
27. Cohêlet 10:4
28. Ezra 10:2
29. Bereshit 18:27
30. Veja Rashi sobre Bereshit 21:33
31. Talmud, Sotá ibid.
32. Mishlê 16:5
33. Sotá 4 b. Veja Maharsha ali.
34. Ibid.
35. Ibid., 5a (Veja Ben Yehoyada ali, que explica que eles serão ressuscitados, mas com sofrimento maior que as outras pessoas mortas.)
36. Talmud, Megilá 13b
37. Sanhedrin 101b. Veja Dikdukei Sofrim, que algumas versões do Talmud dizem que a arrogância “afastou-o do mundo vindouro.”
38. Talmud, Pessachim 66b
39. Talmud, Chullin 89a.



Por Aryeh Citron
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Por que 7 em vez de 613?

Por Tzvi Freeman

Pergunta:


Parece-me que quanto mais refinada e espiritual uma pessoa é, menos precisa de mandamentos, pois ela própria entende o que é certo e errado. Assim como uma criança, que precisa de mais regras que um adulto. Seguindo essa lógica, por que não-judeus precisam apenas de sete mitsvot, ao passo que os judeus precisam de 613?

Resposta:
Rabi Yehuda Loewe (O Maharal de Praga) fez esta mesma pergunta há 400 anos. Ele explicou que a verdadeira expressão de D’us é a liberdade. A alma humana é Divina, portanto é livre para ser aquilo que desejar, elevar-se às alturas mais elevadas, ou, D’us não o permita, fazer o oposto.

Portanto, embora os animais conheçam suas regras naturalmente e de maneira geral se apeguem a elas sem que precisem ser mandados, o ser humano precisa ser comandado. A estrutura básica de suas leis são sete, porque seu propósito é limitá-lo dentro do espaço; seis direções mais o espaço no qual ele se encontra.

A alma judaica, como deve ser uma luz entre as nações, expressa ainda mais a liberdade da Divindade; ela deve ser restrita dentro do tempo, também. Portanto, as 365 proibições, correspondem aos 365 dias do ano (o ano é a medida básica de tempo).
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Por Tzvi Freeman
Rabino Tzvi Freeman, editor sênior de Chabad.org, também lidera nossa equipe Pergunte ao Rabino. É autor de Trazendo o Céu para a Terra. Para inscrever-se e receber atualizações regulares sobre os artigos de Rabino Freeman, visite os Freeman Files.

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Vayicrá: Um Chamado de Amor Adaptado de um discurso do Rebe de Lubavitch, Sêfer Hitvaaduyot 5750, Vol. 2.


O Livro de Vayicrá descreve em detalhes as leis das oferendas que eram levadas ao Mishkan (Santuário) e ao Templo Sagrado. Inicia-se com as palavras: “E Ele chamou Moshê.”
Rashi, o grande comentarista da Torá, explica que D’us chamou Moshê com um amor especial e único. A filosofia chassídica explica mais sobre o significado do fato de o nome de D’us não ser mencionado de forma direta. Esse grande amor, explica, é proveniente de um atributo Divino que é tão elevado, que existe além das limitações impostas por um nome. É como se a própria Essência de D’us estivesse chamando Moshê.
A chassidut também ensina que cada judeu tem uma centelha da alma de Moshê dentro de sua própria alma. Portanto, o chamado de D’us para Moshê com um amor especial é um chamado para cada judeu, não importa quem seja. As instruções que vieram em seguida, os detalhes dos corbanot - sacrifícios (que no hebraico tem o radical que significa “aproximar”) são as instruções através das quais podemos nos aproximar de D’us, e dizem respeito a todo e qualquer judeu, em todo e qualquer tempo e espaço.
Este conceito também se reflete na Haftará desta semana (do livro de Yeshayáhu). “Este povo que formei para Mim expressará Meu louvor.” A primeira parte do versículo parece mostrar o grande amor de D’us pelo povo judeu. A segunda parte, porém, parece referir-se a suas preces, boas ações e estudo da Torá, através das quais o Nome de D’us é engrandecido.
Porém, se analisarmos o versículo em profundidade, veremos que o tipo de louvor a que D’us se refere aqui é totalmente diverso e independe das ações do judeu.
“Este povo que formei para Mim” diz D’us. O povo judeu pertence a D’us; é só através dos judeus que Sua soberania sobre o Universo é estabelecida, pois um rei não pode governar se não houver súditos. Um judeu, por sua própria natureza, e não por seus atos, já é criado especial.
“Expressará Meu louvor.” prossegue D’us. A própria existência do povo judeu revela a glória de D’us. O fato de o povo judeu, “um cordeiro entre setenta lobos”, ainda florescer após milhares de anos é um testemunho da grandeza de D’us. Cada judeu é uma prova da existência de D’us e faz com que seu Nome seja louvado.
Isso é relevante, principalmente, em nossa geração, que veio após a terrível destruição de nossos irmãos no Holocausto. O fato de existirem judeus atualmente, perpetuando com orgulho nossa tradição sagrada e criando uma nova geração de judeus para continuar a impregnar de santidade o Universo é, por si, um milagre, sendo um testemunho da grandeza de D’us.
O imenso amor que D’us tem por cada judeu, independente de suas ações, demonstra quão importante é que nós amemos nossos irmãos judeus e sempre os julguemos de modo favorável, pois cada um de nós é um tesouro especial de D’us.
Likrat Shabat on line 5770 (20/03/10)
Uma publicação da Yeshivá Tomchei Tmimim Lubavitch
Ohel Menachem Mendel – S. Paulo

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Por Tzvi Freeman
Há um ensinamento radical do Baal Shem Tov que pode também ser o mais tradicional: ele acreditava num D'us que está aqui, agora.
Nas piruetas duma folha qualquer caída de alguma árvore solitária, no soprar de uma brisa súbita num dia de verão, em tudo que pode ser visto ou em todo som que pode ser ouvido, o Baal Shem Tov percebia o Infinito, o Insondável. “A Divindade é tudo,” costumava dizer, “e tudo é Divindade”.
Muitas mentes eruditas da época acharam a noção absurda. Que D'us cuidava dos atos justos daqueles que O temiam e faziam Sua vontade, isso eles entendiam. Que Ele podia ser encontrado na sinagoga e no salão de estudos, sim, isso era verdade. Mas por qual motivo um grande e poderoso D'us Se importaria com os detalhes mundanos da vida do erudito, mais ainda de uma pessoa simples, e o que dizer de uma folha caída na floresta? D'us sabe tudo, isso ninguém duvida. Ele cria todas as coisas e as sustém continuamente, isso também era aceito. Porém Ele deve fazer isso de longe, diziam, e assim também, Sua providência vem de longe. Pois Ele é o Ohr Ein Sof, a Luz Infinita, transcendente até nos reinos mais espirituais. Colocá-Lo dentro da criação em si, em toda atividade mundana, é igualá-Lo com a finitude de Sua criação.
E além disso, o Baal Shem Tov tinha os textos sagrados ao seu lado. Tal como os Salmos de David: “Ele cobre os céus com nuvens, prepara chuva para a terra, faz brotar a grama nas montanhas. Ele provê comida aos animais, aos corvos implumes aquilo que eles pedem.”1
Ou declarações claras do Talmud, como: “Rabi Yochanan, ao ver um pelicano, recitava o versículo: ‘Teus julgamentos estão acima das profundezas!’” (Pois preparaste o pelicano para cumprir Tua justiça sobre os peixes do mar, para matar aqueles que devem morrer.” – Rashi)2
Ou, tão explícito quanto possível, do Profeta Yeshayahu: “Diz D'us: Eu não preenchi os céus e a terra?”3
Na verdade, O Baal Shem Tov não estava denegrindo D'us, mas sim o contrário, estava elevando-O muito além de nossos antropomorfismos infantis. Nós seres humanos somos definidos por aquilo no qual nos investimos. Engajados em coisas pequenas, nos tornamos pequenos; em coisas maiores, ficamos grandes. Pensamos na matemática e nos tornamos matemáticos; dê-nos um jardim para cuidar, e agora somos jardineiros.
Mas Ele que é infinito, no sentido mais absoluto, é capaz de transcender todos limites, incluindo os da própria transcendência. Ele pode ser encontrado nos movimentos mínimos do vento que move a grama, no grito faminto do corvo, no tamborilar frenético da chuva caindo sobre o telhado, mesmo na livre escolha dos seres humanos, e ainda assim permanecer inteiramente transcendente e indefinido por qualquer deles, o infinito pulsando dentro de um mundo finito. "Ele domina tudo", diz o Zohar, "mas nada tem domínio sobre Ele." O Baal Shem Tov elaboraria desta forma: "Ele abrange a natureza de cada coisa, embora nada O abranja nem O defina."
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NOTAS
1. Salmos 147:7-9
2. Chulin 63 a
3. Yeshayahu 23:24





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Vayicrá: Um Chamado de Amor
Adaptado de um discurso do Rebe de Lubavitch, Sêfer Hitvaaduyot 5750, Vol. 2.


O Livro de Vayicrá descreve em detalhes as leis das oferendas que eram levadas ao Mishkan (Santuário) e ao Templo Sagrado. Inicia-se com as palavras: “E Ele chamou Moshê.”
Rashi, o grande comentarista da Torá, explica que D’us chamou Moshê com um amor especial e único. A filosofia chassídica explica mais sobre o significado do fato de o nome de D’us não ser mencionado de forma direta. Esse grande amor, explica, é proveniente de um atributo Divino que é tão elevado, que existe além das limitações impostas por um nome. É como se a própria Essência de D’us estivesse chamando Moshê.
A chassidut também ensina que cada judeu tem uma centelha da alma de Moshê dentro de sua própria alma. Portanto, o chamado de D’us para Moshê com um amor especial é um chamado para cada judeu, não importa quem seja. As instruções que vieram em seguida, os detalhes dos corbanot - sacrifícios (que no hebraico tem o radical que significa “aproximar”) são as instruções através das quais podemos nos aproximar de D’us, e dizem respeito a todo e qualquer judeu, em todo e qualquer tempo e espaço.
Este conceito também se reflete na Haftará desta semana (do livro de Yeshayáhu). “Este povo que formei para Mim expressará Meu louvor.” A primeira parte do versículo parece mostrar o grande amor de D’us pelo povo judeu. A segunda parte, porém, parece referir-se a suas preces, boas ações e estudo da Torá, através das quais o Nome de D’us é engrandecido.
Porém, se analisarmos o versículo em profundidade, veremos que o tipo de louvor a que D’us se refere aqui é totalmente diverso e independe das ações do judeu.
“Este povo que formei para Mim” diz D’us. O povo judeu pertence a D’us; é só através dos judeus que Sua soberania sobre o Universo é estabelecida, pois um rei não pode governar se não houver súditos. Um judeu, por sua própria natureza, e não por seus atos, já é criado especial.
“Expressará Meu louvor.” prossegue D’us. A própria existência do povo judeu revela a glória de D’us. O fato de o povo judeu, “um cordeiro entre setenta lobos”, ainda florescer após milhares de anos é um testemunho da grandeza de D’us. Cada judeu é uma prova da existência de D’us e faz com que seu Nome seja louvado.
Isso é relevante, principalmente, em nossa geração, que veio após a terrível destruição de nossos irmãos no Holocausto. O fato de existirem judeus atualmente, perpetuando com orgulho nossa tradição sagrada e criando uma nova geração de judeus para continuar a impregnar de santidade o Universo é, por si, um milagre, sendo um testemunho da grandeza de D’us.
O imenso amor que D’us tem por cada judeu, independente de suas ações, demonstra quão importante é que nós amemos nossos irmãos judeus e sempre os julguemos de modo favorável, pois cada um de nós é um tesouro especial de D’us.
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Ensinamentos do Baal Shem Tov

Por Tzvi Freeman


Há um ensinamento radical do Baal Shem Tov que pode também ser o mais tradicional: ele acreditava num D'us que está aqui, agora.
Nas piruetas duma folha qualquer caída de alguma árvore solitária, no soprar de uma brisa súbita num dia de verão, em tudo que pode ser visto ou em todo som que pode ser ouvido, o Baal Shem Tov percebia o Infinito, o Insondável. “A Divindade é tudo,” costumava dizer, “e tudo é Divindade”.
Muitas mentes eruditas da época acharam a noção absurda. Que D'us cuidava dos atos justos daqueles que O temiam e faziam Sua vontade, isso eles entendiam. Que Ele podia ser encontrado na sinagoga e no salão de estudos, sim, isso era verdade. Mas por qual motivo um grande e poderoso D'us Se importaria com os detalhes mundanos da vida do erudito, mais ainda de uma pessoa simples, e o que dizer de uma folha caída na floresta? D'us sabe tudo, isso ninguém duvida. Ele cria todas as coisas e as sustém continuamente, isso também era aceito. Porém Ele deve fazer isso de longe, diziam, e assim também, Sua providência vem de longe. Pois Ele é o Ohr Ein Sof, a Luz Infinita, transcendente até nos reinos mais espirituais. Colocá-Lo dentro da criação em si, em toda atividade mundana, é igualá-Lo com a finitude de Sua criação.
E além disso, o Baal Shem Tov tinha os textos sagrados ao seu lado. Tal como os Salmos de David: “Ele cobre os céus com nuvens, prepara chuva para a terra, faz brotar a grama nas montanhas. Ele provê comida aos animais, aos corvos implumes aquilo que eles pedem.”1
Ou declarações claras do Talmud, como: “Rabi Yochanan, ao ver um pelicano, recitava o versículo: ‘Teus julgamentos estão acima das profundezas!’” (Pois preparaste o pelicano para cumprir Tua justiça sobre os peixes do mar, para matar aqueles que devem morrer.” – Rashi)2
Ou, tão explícito quanto possível, do Profeta Yeshayahu: “Diz D'us: Eu não preenchi os céus e a terra?”3
Na verdade, O Baal Shem Tov não estava denegrindo D'us, mas sim o contrário, estava elevando-O muito além de nossos antropomorfismos infantis. Nós seres humanos somos definidos por aquilo no qual nos investimos. Engajados em coisas pequenas, nos tornamos pequenos; em coisas maiores, ficamos grandes. Pensamos na matemática e nos tornamos matemáticos; dê-nos um jardim para cuidar, e agora somos jardineiros.
Mas Ele que é infinito, no sentido mais absoluto, é capaz de transcender todos limites, incluindo os da própria transcendência. Ele pode ser encontrado nos movimentos mínimos do vento que move a grama, no grito faminto do corvo, no tamborilar frenético da chuva caindo sobre o telhado, mesmo na livre escolha dos seres humanos, e ainda assim permanecer inteiramente transcendente e indefinido por qualquer deles, o infinito pulsando dentro de um mundo finito. "Ele domina tudo", diz o Zohar, "mas nada tem domínio sobre Ele." O Baal Shem Tov elaboraria desta forma: "Ele abrange a natureza de cada coisa, embora nada O abranja nem O defina."
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NOTAS
1. Salmos 147:7-9
2. Chulin 63 a
3. Yeshayahu 23:24





Por Tzvi Freeman
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O Que É Uma Mitsvá? O Estado de Ficar Conectado

Por Tzvi Freeman

O que são?

O significado simples da palavra mitsvá é comando. Aparece em várias formas com este significado, cerca de 300 vezes nos Cinco Livros de Moshê. O Talmud1 menciona que o povo judeu recebeu 613 mitsvot no Sinai, e numerosos códigos – mais notavelmente, Sefer Hamitzvot de Maimônides – fornece listas detalhadas. Os exemplos incluem diversos atos como ter filhos, declarar a unicidade de D'us, descansar no sétimo dia, não comer porco, colocar tefilin no braço e na cabeça, construir um Templo em Jerusalém, designar um rei, obedecer aos sábios e fazer empréstimos sem juros. Veja nossos Minutos Mitsvá para exemplos práticos de mitsvot.

No uso comum, uma mitsvá significa “uma boa ação” – como em: “Cumpra uma mitsvá e ajude a Sra. Goldstein a carregar seus pacotes.” Este uso é bem antigo – o Talmud Jerusalém se refere comumente a qualquer ato de caridade como “a mitsvá”.

Com frequência a palavra mitsvá é relacionada à palavra aramaica tzavta,2 que significa anexar ou juntar. Tzavta pode significar companheirismo3 ou apego pessoal.4 Neste sentido, uma mitsvá une a pessoa que é comandada e o Comandante, criando um relacionamento e um vínculo essencial.5

Os três significados podem eles próprios ser juntados. “Bom” é definido como aquilo que o Criador do Universo quer que seja feito com Seu universo, e ao fazer aquilo que o Criador deseja feito, somos ligados a Ele em corpo, mente e alma.

Qual bem são?

Todos concordam que D'us não forneceu esquemas arbitrários de “trabalho”. As mitsvot têm um benefício prático para a pessoa que a cumpre, bem como para o mundo inteiro.

O Chinuch, uma obra influente composta por um autor anônimo do Século 13 na Espanha, é a mais completa apresentação das mitsvot neste papel como uma espécie de terapia comportamental cognitiva para a espécie humana. “As atitudes são moldadas”, escreve o autor, “mais por aquilo que as pessoas fazem que por aquilo que elas pensam.” A obra detalha exatamente quais atitudes são afetadas de que maneira por qual mitsvá.

Os cabalistas da Tzfat do Século 16, principalmente Rabi Yitschak Luria (o Ari), forneceu um modelo de cura cósmica para as mitsvot. As mitsvot são artefatos que atingem debaixo da capa do cosmos para repará-lo, reorganizando-o num estado harmonioso que é capaz de receber luz Divina infinita. Em última análise, então, são nossas mitsvot as responsáveis por preparar o mundo para a era messiânica, um tempo em que será possível cumprir plenamente todas as mitsvot, em seu contexto ideal, e o mundo estará repleto da luz Divina “como as águas cobrem o leito do oceano”.6

Apesar disso, as mitsvot não podem ser reduzidas a utilidades para atingir qualquer meta específica – nem mesmo a suprema perfeição do cosmos inteiro. Se fossem, não seriam o desejo mais interior de D'us – elas seriam apenas mais um meio para um fim. Ao contrário, o próprio ato de uma mitsvá é um fim em si mesmo. Assim a Mishná declara que apesar de todas as coisas maravilhosas que uma mitsvá traz à pessoa e ao mundo, “a recompensa de uma mitsvá é a própria mitsvá.”7 Ao cumprir uma mitsvá, você e o seu mundo são um só com o próprio D'us.

E sobre as coisas que Ele nunca nos disse para fazer?

Embora o termo “mitsvá” pareça se aplicar somente àquelas atividades que foram expressamente ordenadas, o termo é aplicado também a sete mitsvot rabínicas:

1. Lavar as mãos para o pão.
2. Leis de Eruv.
3. Recitar uma bênção antes de partilhar comida ou qualquer outro prazer.
4. Acender velas de Shabat.
5. Celebração de Purim.
6. Celebração de Chanucá.
7. Recitação das preces de louvor chamadas Hallel em certas ocasiões.

Para cada uma dessas (exceto, obviamente, a número 3), há bênçãos que começam exatamente como a bênção recitada sobre uma mitsvá da Torá: “Bendito sejas, Eterno nosso D'us, Rei do Universo, que nos santificou com Seus mandamentos e nos ordenou…”

Afinal, a Torá exige explicitamente que ouçamos os sábios. Porém os rabinos do Talmud vão mais além e declaram que as ordens rabínicas são mais preciosas a D'us que Suas próprias ordens diretas.8 As mais profundas expressões da vontade Divina são aqueles atos que Ele não nos diz expressamente para fazer, mas que as comunidades judaicas derivaram através de estudo e celebração de Sua Torá. O mesmo se aplica a cuidados, costumes e embelezamentos conhecidos como hidur mitsvá.

Praticamente falando…
Uma sociedade baseada em mitsvót é uma sociedade de participantes educados, ativos – porque não se pode cumprir mitsvot sem aprender primeiro sobre elas. Todo judeu é obrigado a participar de um estudo contínuo das mitsvot e suas aplicações novas assim que surgem. Quando surge uma questão sobre alguma nova tecnologia no Shabat, o status casher de um novo tipo de alimento ou novos métodos de induzir fertilidade, cabe ao indivíduo pedir àqueles que sabem mais para instruí-lo, e aqueles que sabem mais devem debater o assunto segundo as orientações estabelecidas e seus precedentes até que cheguem a algum tipo de resolução. Dessa maneira, há um fluxo constante de conhecimento dentro da sociedade.

Além disso, é difícil manter o cumprimento das mitsvot sem uma fonte renovável de inspiração. As mitsvot cumpridas com alegria e entusiasmo elevam a pessoa um degrau acima do mundo e têm um impacto muito maior sobre o ambiente da pessoa. Mais uma vez, a chave é o estudo e a participação comunitária.
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NOTAS
1. Makkot 23 b.
2. Veja Talmud Bava Netzia 28 a.
3. Veja Talmud Berachot 6 b. “O mundo inteiro foi criado somente para acompanhar esta”, e Sukkah 52 a: “O caminho é longo e nossa companhia doce…”
4. Veja Talmud, Bava Batra 80 a. “A ave mãe será ligada à ave filha…”
5. Veja Pri Etz Chaim, Shaar Lulav u’Minav 3: “Yetzaveh… acompanhar…” Shelah, Asarah Maamarot, Maamar Shlishi u-Revi’i: “Mitsvá, significando tzavta, significando companheirismo,” ibid. Torah Shebaal Peh, Masechet Yoma, Derech Chaim 16: “Pois uma mitsvá é a unificação de todos da Atzilut… do termo tzvaata… acompanhar… “Ohr Hachaim sobre Êxodo 27”20: “E ordenarás… do termo tzavta… acompanhar… “Torah OHr (Rabi Shneur Zalman de Liadi), Bereshit 6 b:” … ‘e Ele nos ordenou’, do termo tzavta e coenexao com a Luz Infinita, fonte das mitsvot acima…”
6. Yeshayahu 11:9.
7. Ética dos Pais 4:2.
8. Veja Talmud Sanhedrin 88 b; Talmud Jerusalém, Sanhedrin 11:4.



Por Tzvi Freeman
Rabino Tzvi Freeman, editor sênior de Chabad.org, também lidera nossa equipe Pergunte ao Rabino. É autor de Trazendo o Céu para a Terra. Para inscrever-se e receber atualizações regulares sobre os artigos de Rabino Freeman, visite os Freeman Files.

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sábado, 24 de março de 2012

Dê licença Salmão! Abra espaço para a Sardinha

Autor: Marcus Vinícius Pimenta de Ávila
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Dê licença Salmão! Abra espaço para a Sardinha!!


A maioria das pessoas em sintonia com a nutrição é consciente dos benefícios do peixe gordo como o salmão. Mas este superstar do coração saudável não é o único peixe rico em omega-3.

Como as fontes de omega-3 dos alimentos são difíceis de encontrar, talvez seja tempo de explorar fontes alternativas. Veja a sardinha, um peixe, muitas vezes negligenciado. Batizado com o nome da ilha da Sardenha, estes peixes na maior parte das vezes são deixados de lado, mas vejam só, este peixinho é mais rico em ômega-3 que o "galã" do salmão!

Quando se trata de nutrição, as sardinhas contêm mais proteína do que o bife, mais potássio que as bananas e mais ferro que o espinafre. Eles também são uma boa fonte de cálcio (se você comer os ossos minúsculos), vitamina B12 e os poderosos antioxidantes coenzima Q10 e selênio.

As pesquisas mostram que essas gorduras poderosas são benéficas para a saúde do coração. De fato, as orientações da American Heart Association sugerem comer peixe (especialmente peixes gordos como a sardinha), pelo menos, duas vezes por semana. As evidências mostram também que o ômega 3 pode desempenhar um papel na preservação da memória e prevenir a depressão, câncer, artrite e outras doenças crônicas.

Mas tome cuidado quando for comprar sardinhas. Verifique se os olhos estão brilhantes e as brânquias, avermelhadas. Não se preocupe com escamas soltas, porque isso é normal nas sardinhas, fique ainda mais atento ao odor. A sardinha nunca deve ter cheiro de ranço, um sinal de oxidação. Por fim evite fritá-las, pois o calor excessivo da gordura quente, é capaz de degradar o ômega-3.

Curiosidades Judaicas Por Beit Lubavitch Research Center

Gerais

1. “Abracadabra” vem do hebraico e significa “criarei ao falar“ (Evra Kedabra)?

2. Muito antes de Colombo (que talvez era judeu), o Talmud de Jerusalém (tratado de Avodá Zará) já declarava que “o mundo é redondo”?

3. De cada mil cientistas que há no mundo, dois, pelo menos, chamam-se Cohen?

4. D. Pedro II sabia ler e escrever (e possivelmente) falar hebraico (inclusive escrevia com letra de Rashi)? Ele também falava provençal (uma espécie de ladino francês) e publicou traduções de poemas litúrgicos nestes idiomas ?

5. A construção de um micvê casher é mais importante que a construção de uma sinagoga? Pode-se e deve-se vender uma sinagoga e até um sefer Torá para viabilizar a construção de um micvê?

6. De 1892 a 1896, o judeu alemão Otto Lilienthal fez mais de 2000 vôos tipo asa delta, muito antes dos irmãos Wright ou Santos Dumont (falecendo no último vôo...)?

7. O Mar Vermelho (que é azul) na Torá é chamado de Iam Suf (Mar de Juncos) o que em inglês foi traduzido como “Sea of Reeds” que depois de alguma forma virou Sea of Reds ou Red Sea?

8. No início, os muçulmanos, liderados por Maomé, rezavam voltando-se para Jerusalém. Depois, quando Maomé não conseguiu atrair os judeus para sua nova religião, mudou a direção para Meca, totalmente frustrado com a “teimosia” dos judeus?

9. Sigmund Freud era conhecido na sua cidade natal, Freiberg, como “Shloimele”, pois esse é o nome que seu pai, Yankl, lhe deu no seu Brit Milá?

10. Ensina o Talmud: Não existe um sonho sem algum absurdo. Não existe sonho sem interpretação. O sonho se concretiza para o bem ou para o mal de acordo com a interpretação dada. Um sonho é 1/60 de uma profecia.

11. O Petróleo como fonte de iluminação foi descoberto em 1853 por um judeu galitsianer da cidade de Boryslaw chamado Avraham Schreiner (1820 - 1900)?

Chassidut

12. 5772 marca 215 anos da edição do livro básico da Chassidut Chabad, O Tanya, que também é a base de muitas obras modernas de mussar (ética judaica), como o Michtav MeEliahu e Lev Eliahu?

13. Há dois séculos o primeiro Rebe de Chabad, Rabi Schneur Zalman de Liadi (também conhecido como Alter Rebe ou Admur Hazaken) revolucionou o pensamento judaico tanto no campo esotérico, com o Tanya, como no âmbito da halachá, sendo conhecido como Harav ?

14. O sobrenome do Alter Rebe era Baruchovitch (“filho de Baruch”)e não Schneersohn? Seus filhos eram chamados de Schneury e a partir de seus netos é que passaram a ser conhecidos como Schneersohn?

15. O Alter Rebe e o Baal Shem Tov (fundador da Chassidut) nasceram ambos no dia 18 (CHAI — [que dá] vida a) Elul?

16. O Baal Shem Tov nasceu no ano de 5458 (NaCHaT ou naches, satisfação, em hebraico) há 314 anos?

Histórias chassídicas

17. O Alter Rebe dizia: “As explicações profundas da Torá que escutávamos do Magid de Mezrich era para nós considerado como a Torá oral. Quando ele nos contava histórias, considerávamos como se fosse a Torá escrita. Há também uma outra comparação demonstrando a importância da história judaica: No Templo sagrado além de acender a Menorá todos os dias, era preciso também antes limpar os copinhos da Menorá. Somente após esta limpeza, acendiam-se as velas. As mitsvot e bons atos são comparados ao acender das velas, enquanto que as histórias judaicas, ao limpar dos copinhos. Uma história quando bem contada aquece o nosso coração, aquece o lar judaico.

18. O Rebe de Lubavitch anterior escreveu muitas histórias. Ele costumava dizer: “É preciso saber como contar uma história, dar a ela vida. E é preciso saber escutar uma história, como se estivesse vivenciando-a. Uma história de um Tsadik ou de um chassid deve ser contada com todos seus detalhes exatamente como aconteceram, sem acrescentar interpretações próprias. A alma do judaísmo e da Chassidut é transportada de geração para geração através das histórias”. Sobre Chanucá há um ditado chassídico que diz “Escute o que as velas estão nos contando”.

Torá

19. A divisão da Torá em capítulos não é de origem judaica? Foi feita por cristãos com intuito de "reinterpretar" certas passagens e durante os debates religiosos da Idade Média acabou tornando-se necessária para nós, suplantando o uso da divisão natural da Torá em Parashiot pequenas e grandes ?

20. As Tábuas da Lei nunca foram as Tábuas da Lei? Sim, leis da Torá existem muito mais do que dez, para ser mais preciso existem 613 Mandamentos: 248 deveres e 365 proibições. Em hebraico as Tábuas são chamadas de Luchót Habrit, ou seja, Tábuas do Pacto ou Aliança, e os ditos Dez Mandamentos são Asseret Hadibrót, ou seja, os Dez Pronunciamentos?

21. Moshe Rabeinu recebeu no monte Sinai, além das Luchot - Tábuas da Lei com os dez mandamentos e parte da Torá escrita em pergaminho (igual a que nós temos hoje nas sinagogas). A Torá oral, isto é, explicações e detalhes de tudo que estava escrito na Torá, ele recebeu de D’us oralmente (mais tarde parte dela foi escrita no Talmud).

Criação do mundo

22. D’us criou o mundo com Sua fala e que o idioma usado foi o Lashon Hakodesh (parecido com o Hebraico atual).

23. Os anjos foram criados no segundo dia da criação.

24. Adam (Adão) foi criado como uma pessoa com a idade de 20 anos.

25. A fruta proibida não era maça, mas sim figo. (Há, no Talmud, outras opiniões: uva ou então trigo. Uma quarta opinião: o Etrog).

26. Adam deu o nome (hebraico) para todas as espécies criadas.

27. Adam viveu 930 anos, e viveu até seus descendentes de Sexta Geração

Dilúvio

28. Antes do dilúvio era permitido aos homens comerem só frutas e verduras e somente após o dilúvio foi permitido comer carne.

29. A arca de Noé tinha o formato de uma caixa de sapatos gigante com teto e não de um “barco” com girafas e elefantes saindo pela janela (senão seria a “barca” e não a “arca” de Noé...)?

30. Durante o ano do dilúvio o Sol, a Lua e as estrelas ficaram inativos, portanto não houve dia, noite, verão ou inverno.

31. Na tevá de Nôach os animais conviveram em paz entre si, assim como ocorrerá após a vinda de Mashiach.

32. O homem que mais viveu na face da terra foi Metushelach (Matusalém). Ele viveu 969 anos e faleceu uma semana antes do dilúvio.

33. Nôach alcançou a décima geração de seus descendentes, vivendo na mesma época que Avraham durante 58 anos.

Patriarca Avraham

34. A mãe de Avraham chamava-se Amtalai filha de Cárnevo. Sara sua esposa era filha de seu irmão Haran, portanto sua sobrinha.

35. Hagar, que era ajudante da casa de Avraham, com quem Avraham se casou a pedido de sua esposa Sara e teve seu filho Yishmael, era a filha do rei Paró (Faraó) do Egito.

36. Terach, apesar de viver toda sua vida acreditando em estátuas, fez teshuvá no final de seus dias e faleceu como tsadik (um justo).

37. A primeira vez que consta a palavra Cohen (sacerdote) na Torá é na Parashá que refere-se a Shem, filho de Nôach, como sendo Cohen e por isso Avraham deu-lhe o dizimo de tudo que possuía.

38. Os anjos vieram visitar Avraham em Pêssach e exatamente um ano depois, em Pêssach, nasceu Yitschak.

39. Um anjo, quando enviado por D’us, pode efetuar somente uma missão. No entanto, o mesmo anjo que veio curar Avraham, Refael, veio também salvar Lot da destruição de Sedom. Porque curar e salvar alguém é considerado uma única missão.

40. Avaraham instituiu a reza da manhã, Shacharit, seu filho Yitschak, a reza da tarde, Minchá e seu neto Yaacov a reza da noite Arvit (ou Maariv). Isto está simbolizado na segunda letra de cada um de seus nomes: a letra bet (é a mesma que a letra vet) de Avraham é a primeira letra da palavra boker (manhã), tsadik de Yitschak, tzohoraim (tarde) e ain de Yaacov, erev (noite).

Patriarca Yitschak

41. Yitschak foi o único patriarca que nunca saiu de Israel. Pela sua santidade, por ter sido preparado para um sacrifício, ele não podia sair de Israel. Por isso Avaraham mandou seu ajudante Eliezer procurar-lhe uma esposa.

42. Em Mearat Hamachpelá estão enterrados quatro casais: Adam e Chava, Avraham e Sara, Yitschak e Rivka e Yaacov e Lea. Eliezer, o servo de Avraham, tinha uma filha e queria que Yitschak se casasse com ela.

43. Avraham teve no total oito filhos. Ele teve mais seis com Hagar, serva de Sara e mãe de Yishmael, que é chamada de Keturá.

44. Yishmael faleceu aos 137 anos, como Tsadik (justo), pois fez teshuvá (retornando ao bom caminho no final de seus dias).

45. Avraham, Yitschak e Yaacov viveram na mesma época durante 15 anos. Pois Avraham faleceu no ano 2123 e Yaacov nasceu em 2108.

46. Esav nasceu com muito pelo por isso era chamado de Esav (que significa pronto, como um adulto) e sua cor de cabelo era vermelha.

47. Quando Yitschak foi colocado no altar para ser sacrificado, os anjos viram, e começaram a chorar, suas lágrimas caíram sobre os olhos de Yitschak. Essas lágrimas tornaram-lhe cego mais tarde.

Patriarca Yaacov

48. Yaacov ao sair de sua casa a caminho da casa de Lavan, seu tio, ficou durante 14 anos estudando Torá na Yeshivá de (Shem e seu bisneto) Ever.

49. O fato do falecimento de Avraham ter sido relatado na Torá antes do nascimento de Yaacov, não constitui contradição, pois na Torá os acontecimentos não estão relatados necessariamente em ordem cronológica.

50. Yaccov ficou longe de seus pais durante vinte e dois anos. Vinte anos na casa de Lavan e dois no caminho de volta para casa. Yossef, seu filho, vendido pelos irmãos, ficou também afastado vinte e dois anos de Yaacov.

51. A Torá ensina como se deve festejar o casamento, com refeições festivas, durante sete dias.

52. Yissachar originalmente chamava-se Yissasschar, mas transferiu um shin para seu filho que chamava-se Yov e passou a se chamar Yashuv.

53. Léa após ter seis filhos rezou para que o próximo fosse uma filha para que Rachel completasse com seus dois filhos as doze tribos. O nome desta filha era Dina.

54. O ditado “As paredes tem ouvidos” aprendemos da parashá em que Yaacov chama Rachel e Léa para conversar no campo.

55. 100 vezes Lavan modificou acordos feitos com Yaacov.

56. Os 14 anos que Yaacov ficou estudando Torá não são considerados.

57. (Alguns) anjos recebem um nome diferente para cada missão que efetuam. Por isso o anjo não disse seu nome a Yaacov, pois não tinha nome fixo.

58. O sol nasceu mais cedo para curar Yaacov através de seus raios. As horas que o sol se pôs mais cedo na viagem de ida, foram compensadas por esta alvorada antecipada.

59. É desta Parashá que se origina a proibição de comer o nervo ciático de um animal, em lembrança da cura que Yaavov recebeu de Hashem.

60. Yaacov escondeu sua filha Dina dentro de um baú, para evitar que Esav se casasse com ela.

61. Linguagem de Esav: “Tenho muito (mais do que preciso)”.

62. Linguagem de Yaacov: “Tenho tudo (que necessito)”.

63. Shimon e Levi tinham 13 anos quando destruíram Shechem. Desta passagem, em que a Torá os chama de “Ish” (homens), aprendemos a idade do “Bar Mitsvá”.
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Os Oito Níveis de Caridade Definidos por Maimônides, o Rambam


Há oito níveis de caridade, cada qual mais elevado que o seguinte.

1. O nível mais alto, acima do qual não existe outro, é apoiar um irmão judeu com um presente ou empréstimo, ou fazer uma sociedade com ele, encontrar emprego para ele, a fim de fortalecer sua mão até que não precise mais ser dependente de outros…
2. Um nível abaixo em caridade é dar aos pobres sem saber para quem está doando, e sem que o receptor saiba de quem recebeu. Isso é cumprir uma mitsvá apenas em prol do céu. É como o “fundo anônimo” que havia no Templo Sagrado [em Jerusalém]. Ali os justos doavam em segredo, e os pobres bons lucravam em segredo. Doar a um fundo de caridade é semelhante a este modo, embora não se deva contribuir para um fundo de caridade a menos que se saiba que a pessoa designada para cuidar do fundo é confiável e sábia, além de bom administrador, como Rabi Chananyah ben Teradyon.
3. Um nível abaixo desse é quando alguém sabe para quem está doando, mas o receptor não conhece seu benfeitor. Os Sábios mais notáveis costumavam caminhar em segredo e colocar moedas nas portas dos pobres. É realmente valioso e bom fazer isto, se aqueles que deveriam ser os responsáveis por distribuir caridade não são merecedores de confiança.
4. Um nível abaixo que esse é quando a pessoa não sabe para quem está doando, mas o pobre conhece seu benfeitor. Os Sábios costumavam atar moedas em suas túnicas e atirá-las por trás das costas, e os pobres iam apanhá-las nas costas das túnicas, para que não ficassem envergonhados.
5. Um nível abaixo é quando alguém dá diretamente ao pobre, na sua mão, mas dá antes que lhe seja pedido.
6. Um nível abaixo é quando alguém dá ao pobre após ter sido pedido.
7. Um nível abaixo é quando alguém dá de maneira inadequada, mas alegre e com um sorriso.
8. Um nível abaixo é quando alguém dá de má vontade.

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terça-feira, 13 de março de 2012

Bioética, Medicina e o Judaísmo 18/09/2006 - Nelly de Souza Lopes

Introdução

A exposição que se segue não pretende ser exaustiva acerca dos temas apresentados sobre bioética embora pretenda dar uma visão das posições adotadas, de forma geral, pelo judaísmo. As diferentes correntes judaicas só serão mencionadas caso suas posições sejam muito divergentes do judaísmo normativo. Abordando tais questões pelo viés mais ortodoxo pretendemos estabelecer como clara a existência de uma ética judaica, cuja presença é sentida para além das divergências sobre a prática da lei judaica entre os diversos movimentos.
As citações são, em sua maioria, de textos tradicionais, cujo título em hebraico será mantido. Portanto, ao tratarmos do Pentateuco iremos utilizar sua terminologia tradicional, Torá, mas os ver-sículos específicos terão o livro indicado com o nome em português visando maior acessibilidade ao leitor e à leitora. A distinção entre Torá e halachá é que a primeira é a fonte da segunda, que é a sistematização e a ampliação daquilo que está na primeira e que continua até hoje, seja em codificações das leis da Torá e do Talmud (como o Shulchan Aruch), seja em responsum rabínicos. As discussões e a ampliação da Torá estão, em grande parte, escritas no Talmud (obra concluída no século V, composta de duas partes, Mishná e Guemará) mas não se limitam de forma alguma a ele. Além disso, parte importante da tradição judaica se encontra na coleção de obras denominada mi-drash que são as interpretações dos rabinos acerca do texto bíblico. Muitas histórias de vida de rabinos também estão coligidas no Talmud e nos midrashim (plural de midrash). É deste triângulo (Torá, Talmud, halachá) que saem as decisões rabínicas acerca das questões atuais. Optamos por colocar o termo mitzvá no original em hebraico, para ressaltar que seu espaço semântico é maior do que o termo mandamento pode sugerir, saindo da mera esfera da decisão legal e ampliando-se para obrigação moral.
Os temas que serão abordados através da formulação de uma pergunta clara e são, em linhas gerais, os seguintes: transfusão de sangue, doação de órgãos, aborto, inseminação artificial, eutanásia, saúde do idoso, clonagem e terapia genética.

I - A importância da vida e outras afirmações básicas do judaísmo
Um dos maiores valores na tradição judaica é o valor intrínseco da vida humana, que é comparada com o universo: "Quem salva uma única alma é como se salvasse todo o universo" (Mishná San'hedrin 19b). Para a salvação de uma alma, todas as proibições contidas na Torá, menos três, estão suspensas. Estas três são idolatria, incesto e homicídio (o suicídio recai numa categoria particular de homicídio). A ação positiva do ser humano sobre a Terra é expressa pelos seguintes trechos: "O mundo se mantém sobre três coisas: o estudo da Torá, o serviço religioso e os atos de benemerência" (Mishná Avot 1:2). Ou seja, o mundo não existiria se nós, seres humanos, não agíssemos positivamente em relação a nós mesmos: na esfera pessoal, buscando crescimento espiritual no estudo da Torá; na esfera transcendente, buscando crescimento espiritual na relação com Deus; finalmente, na esfera interpessoal, buscando crescimento espiritual nas relações pessoais que estabelecemos ao longo da vida. E esta exigência da ação no mundo é ainda mais reforçada pelas palavras "não confiamos em milagres" (Kidushin 39b-40b). Esta última frase é muito aplicada no contexto patológico, incitando-nos a ir em busca daquilo que há de mais avançado na medicina para conse-guir a salvação de uma vida humana. Além disso, a crença em que Deus é único e que todas as coisas da nossa vêm Dele é expressa todos os dias pela bênção "Bendito é Você, Eterno ... que faz tudo o que eu preciso" e relembrada no livro de Josué (23:15) "E acontecerá: da mesma forma que todas estas boas coisas aconteceram para vocês ... assim trará o Eterno todas as coisas más". É a partir destas considerações preliminares que iremos abordar os temas a serem expostos.

II - A transfusão de sangue e a doação de órgãos


A transfusão de sangue não é de forma alguma uma questão polêmica no judaísmo. Ainda que esteja escrito na Torá que "o sangue é a alma"(Levítico 17:14) esta afirmação não pode ser encarada como problematizante para este caso pois nossos rabinos a inserem na questão contextual geral deste versículo, que é a das leis alimentares - daí vem a proibição, para os judeus, de usar sangue como fonte alimentar, o que implica numa preparação especial da carne a ser consumida. Como a doação de sangue, especialmente nos dias de hoje, oferece risco mínimo para o doador e benesses máximas para o receptor, ela é tida como uma mitzvá muito importante para todas as correntes ju-daicas, sendo amplamente estimulada. Da mesma forma, ainda que seja mais dolorosa, a doação de medula óssea é encorajada enquanto mitzvá.
A doação de órgãos nos coloca em um terreno mais complexo. Existem dois tipos diferentes de doação: a que pode ser feita em vida e a que pode ser feita depois da morte. O primeiro tipo en-globa a doação de parte de um órgão ou tecido, a saber, pulmões, rins, sangue, medula óssea ou parte do fígado. Este tipo engloba duas questões básicas: a do perigo para o doador e a do recebi-mento de pagamento pela doação de um órgão ou tecido. Já a doação de órgãos após a morte apresenta outras questões: a primeira é em relação à permissividade ou à obrigatoriedade de consentir à doação de órgãos durante a vida. A segunda é em relação à permissividade ou à obrigatoriedade de carregar consigo alguma forma de consentimento à doação. A terceira questão tem a ver com a vontade da família e até que ponto é necessário ou obrigatório aquiescer à ela.

Vamos, portanto, à primeira delas - é necessário correr um risco para salvar uma vida? Se sim, qual a gravidade do risco ao qual é necessário se submeter para salvar uma vida?
O Talmud considera que encontrar uma pessoa correndo risco de vida é como encontrar algo que essa pessoa perdeu. Como a halachá impõe a devolução de objetos encontrados a seu dono, a segurança é vista como algo que deve ser devolvido: "Você deve devolver a ele o corpo dele". Além disso, a famosa frase "você não ficará impassível frente ao sangue de seu próximo"(Levítico 19:6) é encarada como "você deve fazer de tudo, tomar todas as precauções para evitar que uma desgraça aconteça". O Talmud exemplifica com a visão de alguém se afogando ou sendo atacado por animais selvagens ou por saqueadores. As obrigações impostas pela segunda frase são chamar outros para ajudar, gastar dinheiro para resgatar a pessoa em perigo, usar os seus conhecimentos e mesmo arriscar-se. Porém os comentaristas fazem uma distinção - o risco deve ser o mesmo risco que alguém estaria disposto a correr para ganhar a vida, certamente não mais de 50%. Se há a possibilidade do pretenso "herói" tornar-se uma segunda vítima, ele não tem qualquer obrigação de arriscar-se. Além disso, quem gostaria de correr tal risco não é visto com bons olhos: há a distinção entre um ato no-bre que deve receber um elogio (midat hassidut) e um ato ainda que bem intencionado de pura estupidez (hassidut shotá). Portanto, se por um lado é necessário fazer de tudo, inclusive esforço físico, doação de dinheiro, fazer contatos, levantar fundos e mesmo correr um certo risco pessoal para salvar uma vida, não há a obrigação de sofrer ou doar um órgão que não se regenera, mesmo que o risco não seja intenso (1). Contudo, quem quiser fazê-lo não é considerado um estúpido bem inten-cionado e sim alguém com coragem e coração nobre.
Queremos aqui ressaltar uma profunda divergência - há grupos de ortodoxos (não toda a ortodoxia judaica) que afirmam que tudo o que foi exposto acima e tudo o que será exposto abaixo só se aplica em relação a um(a) judeu(ia). Contudo, os grupos progressistas e mesmo parte da ortodoxia não aceitam de forma alguma esta visão que consideram preconceituosa e contra o espírito da Torá.

Até que ponto é permitido, na halachá, receber pagamento por ter doado um órgão? A venda de órgãos e tecidos é permitida ou proibida?
Há um princípio geral que afirma que qualquer mitzvá da Torá em relação a outra pessoa deve ser cumprida sem o recebimento de qualquer pagamento. Assim, não se deve cobrar nada por devolver algo que alguém perdeu, não importa quanto trabalho e dificuldade isto envolveu. Porém, se foi necessário abandonar um dia de trabalho é possível receber uma compensação.
Como foi explicado, contudo, não é obrigatório doar um órgão e, uma vez que não é mitzvá, é possível receber pagamento. Porém, outras regras se aplicam. Na ocorrência de um acidente, o causador deve pagar ao acidentado compensações, incluindo honorários médicos e procedimentos cirúrgicos além do tempo que o acidentado ficou sem trabalhar ou a perda de habilidade de trabalhar, além de outras. Se o acidentado decidir que não deseja receber a compensação isso não tem importância - ele deve recebê-la pois pela halachá é uma mitzvá, cada parte do corpo tem um valor e a isenção não é possível. Com isso duas conseqüências recaem sobre a questão da venda de órgãos. A primeira é que não há, de forma alguma, razão para banir ou condenar eticamente o doador que decidiu receber pagamento por sua doação - ele está em seu direito de receber por uma parte de seu corpo. Contudo, é importante perceber que só o doador pode receber o pagamento e este deve ir, integralmente, para suas mãos. Qualquer intermediário entre o doador e o receptor recai na categoria discutida acima de ajudar a salvar a vida de alguém - é mitzvá e, portanto, não é permitido que o intermediário receba qualquer pagamento por isso.

É obrigatório ou permitido consentir à doação de órgãos em caso de morte? É permitido ou obrigatório carregar um cartão de doador?
Os limites da posse do próprio corpo por uma pessoa são colocados claramente pela halachá: suicídio deliberado, autopunição e correr riscos. A doação de órgãos para salvar uma vida ou mesmo de sangue e medula óssea mesmo que o paciente não corra risco de vida não recai sob a proibição de autopunição, pois há uma razão muito maior em jogo. Como conseqüência, pode-se afirmar que há a permissão para escolher doar órgãos em caso de morte. Contudo, novamente, não há obrigação uma vez que, apesar de meritório, não é uma mitzvá. Há igualmente a posição de que, se alguém vem perguntar se deve doar seus órgãos em caso de morte, essa pessoa deve ser encorajada, uma vez que, ainda que não seja uma mitzvá, este ato será contado como crédito quando Deus a julgar.
A questão de portar do cartão de doador provoca controvérsias. Há quem diga que é proibido, uma vez que o cartão só é útil em casos de morte súbita e, como não é desejável que uma pessoa "abra sua boca às desgraças"(Talmud, Tratado Brachot 9a), ninguém deve expressar nem mesmo a possibilidade de tal ocorrência. Por outro lado, uma vez que alguns órgãos e tecidos dependem da remoção imediata para salvar uma vida, há autoridades que permitem carregar o cartão de doador com base na idéia de que quase todas as proibições estão relevadas para a salvação de uma alma.

Até que ponto é necessário ou obrigatório aquiescer à vontade da família?
A honra aos mortos (kivud-hamet) é uma das muitas mitzvot às quais o povo judeu se sub-mete. Portanto, a família deve se posicionar enquanto parte interessada em salvaguardar a honra de seu falecido e cabe aos médicos, por sua vez, respeitar tal honra. Isto é ampliado da seguinte forma: se o(a) falecido(a) expressou seu desejo de doar seus órgãos abertamente ou se há uma base razoável para saber se, se alguém lhe tivesse perguntado ele(a) o teria desejado, é mitzvá acatar sua von-tade. Contudo, se ela(e) abertamente expressou sua oposição à doação de órgãos ou há uma base razoável para saber se, se alguém lhe tivesse perguntado ela(e) teria se oposto, é igualmente mitzvá acatar sua vontade. Mas se o desejo da(o) falecida(o) for totalmente desconhecido, a família deve aquiescer à doação, uma vez que pelo menos a salvação de uma alma está em jogo. Em relação ao restante do corpo, a honra ao morto continua sendo uma mitzvá e, portanto, deve ser enterrado de maneira digna.

III - Aborto, redução de fetos em caso de gravidez múltipla e inseminação artificial

Em que condições, se alguma, o aborto é permitido?
A visão do judaísmo tradicional nem bane completamente o aborto nem o libera totalmente - em algumas circunstâncias o aborto chega a ser absolutamente obrigatório. A razão para isso é que o feto, ainda que tenha sua existência protegida pela halachá, não é considerado prioridade caso essa mesma existência entre em conflito com a vida de uma pessoa já nascida.
De forma geral, se a vida da mulher for colocada em perigo pelo feto, seja durante a gravidez, seja com seu nascimento, o feto é considerado rodef, ou seja, um perseguidor atentando contra a vida da mãe. Contudo, conforme explica a Mishná (Tratado Oholot 7:6) se for possível salvar a vida da mãe com a amputação de um membro do feto, o aborto é proibido. Além disso, se as complicações do parto iniciaram-se após o surgimento da cabeça do feto, a vida da criança é considera-da igual à da mãe e, como os dois são considerados perseguidores um do outro, não é possível escolher entre uma das duas vidas (Shulchan Aruch, Hosen Mishpat 425:2).
Mas outras considerações se colocam neste problema. Há a questão de que, além de perigo físico, o nascimento de uma criança pode ocasionar quadros psicológicos graves. A halachá reconhece isso, contudo, o grau de doença mental necessário para justificar um aborto não foi estabelecido com precisão suficiente para que seja possível traçar um quadro definitivo. Nestes casos, uma ou mais autoridades no assunto devem ser consultadas. Neste sentido é avaliado o aborto em casos de estupro ou incesto. Considera-se que o peso emocional do nascimento e da criação de uma criança concebida em tais circunstâncias é muito grande para a mãe suportar. Em casos de adultério, os problemas de aceitar o aborto são muito maiores do que apenas a existência da criança (que tem sua vida religiosa marcada pela condição de mamzer, bastardo/a, sendo proibida de casar-se com judias/eus, entre outras proibições - esta condição também é aplicada a crianças nascidas de incesto) e chegam a tocar na questão da facilitação de um crescimento na lassidão moral da sociedade como um todo.
O avanço da medicina nos possibilita sabermos com exatidão se o feto é portador de alguma doença. Neste caso, a linha geral da halachá é que o valor que nós damos à vida não varia de uma vida para outra, não sendo relativo. Portando, a maioria dos rabinos proíbem o aborto mesmo em caso de má formação fetal - há alguns (2) que chegam a proibir, inclusive, que os exames para isso sejam feitos de forma a impedir que os pais requeira o aborto. Contudo, há rabinos (3) que permi-tem o aborto até o terceiro mês de gravidez caso o feto seja portador de uma doença ou deformidade que tornará sua vida e a de seus pais um sofrimento constante. Estes mesmos rabinos permitem o aborto até o sexto mês caso seja descoberto que o feto carrega um defeito genético letal, como a Síndrome de Tay-Sachs.

Em caso de gestação múltipla , é possível a redução de fetos ?
Em tratamentos contra infertilidade, uma das complicações é a concepção múltipla de fetos. Uma das primeiras questões é se esse tipo de tratamento ou outros, que envolvem o implante de vários fetos no útero, abrindo portanto a possibilidade da situação se tornar muito complicada, são permitidos. Mas essa questão ainda não resolvida. A maioria dos rabinos aceita a idéia de reduzir o número de fetos de forma a aumentar não apenas a chance de sobrevivência da mãe mas também a dos outros fetos.
Inicialmente, não é possível assumir que os fetos são perseguidores uns dos outros uma vez que ainda não são considerados vida - uma passagem do Talmud chega mesmo a afirmar que um feto com menos de 40 dias é maim bealma, apenas água.
Contudo, não se escolhe entre vidas - a regra geral explicada acima. Um trecho interessante do Talmud conta que afirma que "se um grupo de pessoas diz a outro grupo 'dê-nos um de vocês para que o matemos e os outros serão salvos' é proibido escolher um, mesmo se todos forem mortos". Porém Rabi Menachem Hameiri afirma que "se uma dessas pessoas estiver com uma doença grave que a levará à morte em menos de um ano, é possível entregá-la e ninguém será culpado de assassinato" (Talmud de Jerusalém, Tratado Trumot 8:10). Considera-se que, uma vez que todos os fetos morrerão em menos de um ano, pode-se reduzir seu número. Mas muito cuidado deve ser tomado para que isto seja feito o mais cedo possível. A quantidade de fetos a ser abortada é uma questão médica que varia de caso a caso.

Quais as implicações da inseminação artificial, se permitida?
Por incrível que pareça, quando lemos no livro de Eclesiastes "não há nada de novo sob o sol"(1:9) podemos pensar na inseminação artificial dentro do judaísmo. Os sábios do Talmud, há 1500 anos atrás, levantaram as questões éticas de algo como a inseminação artificial, ainda que o termo não tivesse sido cunhado.
Dado que um sumo-sacerdote deve casar-se com uma virgem(Levítico 21:13), um rabino pergunta: poderia ele casar com uma virgem grávida? É claro que os outros perguntam a ele - como isso seria possível? A resposta do rabino é que sim, seria possível, se a mulher tomasse banho nas mesmas águas nas quais um homem teria emito esperma. E um midrash afirma que um grande rabino foi concebido por este processo - inseminação acidental de uma moça por seu pai através da água de banho. Nada, contudo, fez com que essa criança fosse menos legítima: a condição de mamzer não se aplica por não ter havido contato sexual propriamente dito.
Há dois tipos diferentes de inseminação artificial - o sêmen pode vir do cônjuge ou de um homem desconhecido. No primeiro caso, a maioria dos rabinos encara a criança como descendente legítima do pai, ainda que alguns rabinos afirmem que o pai não cumpriu com suas obrigações de procriar. Ao problema do doador ser desconhecido a maioria dos rabinos se opõe muito abertamente pois, apesar de não haver a transgressão da proibição do adultério, isto nos leva a problemas acerca da herança - pois tecnicamente a criança não é considerada descendente do marido da mãe e portanto, sem direitos - e da possibilidade de incesto - ao não saber a identidade do pai, a criança pode-ria casar-se com um(a) meio(a) irmão(ã). Ainda, há a preocupação com a manutenção da unidade familiar e questões são levantadas acerca da posição emocional de uma criança feita por "produção independente" da mãe.

IV - Eutanásia, suicídio acompanhado e saúde do idoso
Eutanásia é um termo grego que quer dizer "a boa morte". A idéia de que a morte possa ser boa ou que seja possível "morrer com dignidade" é estranha ao judaísmo. Ainda que haja a possibi-lidade de kidush hashem, deixar-se matar para não converter-se a outra religião (este termo também é usado para descrever o acontecido nos campos de extermínio nazistas), a eutanásia como é vista hoje tem grande desaprovação da maioria dos rabinos em particular por lembrar aos judeus as euta-násias praticadas durante a Segunda Grande Guerra. Especialmente depois dessa traumática experiência coletiva, a idéia de que a manutenção da vida é mais digna do que o morrer ficou ainda mais em evidência - ou, como o salmista diz: "os mortos não louvam a Deus"(115:17). Porém há um complicador: no Talmud encontramos uma lei que afirma que uma pessoa que recebeu sentença de morte deve receber uma poção para ter seus sentidos nublados antes de que a sentença seja cumpri-da e ela não sofra com a dor. O texto termina com a frase "deve-se escolher para ele uma morte agradável" e para texto oferecido como prova desta decisão é "e amarás teu próximo como a ti mesmo" (Lev. 19:18). Ou seja, mesmo se nossa religião proclama a santidade da vida, ela deve tratar a questão da "morte agradável" pois isto é mandado pela mitzvá de amar o próximo.
Contudo, há uma mitzvá positiva dupla que tem a ver com a relação médico-paciente: o médico tem a obrigação de curar o paciente e o paciente de permitir-se a cura. Esta mitzvá vem do seguinte versículo da Torá: "guarda-te a ti mesmo, e guarda bem a tua alma"(Deuteronômio 1:4). O médico cai na obrigação de restaurar o "corpo perdido" do paciente "com seus conhecimentos", além de estar sujeito à lei "você não ficará impassível frente ao sangue de seu próximo", conforme vimos acima na discussão acerca da doação de órgãos. Mas há a obrigação do paciente de obedecer aos desígnios do médico. Como exemplo, se um médico afirma que, para salvar a vida, o paciente deve entrar em um tratamento que infrinja as leis de shabat (Sábado) e ele se recusa, ele é tido como um hassid shotê (um piedoso estúpido) e "Deus cobrará o sangue das mãos dele" e não do médico. Ou seja, é uma mitzvá, e não um direito, curar-se e proteger a própria vida. Assim, como princípio geral temos que, a partir do momento que o médico pode salvar a vida do paciente, sua obrigação é maior do que qualquer recusa do paciente de receber o tratamento. Mas - e se o médico não tem meios de salvar a vida do paciente? Poderemos, portanto, expressar nossa pergunta assim:

Há algum limite para o dever do médico em preservar ou prolongar a vida do paciente, seja pelo respeito aos desejos do paciente ou pela dor ou pelo sofrimento ou por qualquer outra razão?
A idéia da eutanásia pode ser dividida em cinco tipos diferentes: voluntária (o paciente pede para morrer ou aquiesce à recomendação médica que a morte é a única opção; se o paciente, apoiado pelo médico que lhe dá as condições, termina com sua própria vida - isso é o que hoje chamamos de suicídio acompanhado e é um subtipo da eutanásia voluntária), não-voluntária (um responsável pelo paciente aquiesce à recomendação médica), involuntária (alguém, não responsável, toma um atitude sem a aprovação do paciente ou de seus responsáveis e termina com a vida do paciente), ativa (o médico toma a frente do processo e apressa a morte do paciente), passiva (envolve retirar progressivamente o suporte de aparelhos, de forma que o paciente morra de sua doença e não da falta de aparelhos).
A eutanásia voluntária é tida como suicídio. O suicídio é uma forma muito mais trágica de homicídio, segundo o rabino Bleich, em muitos aspectos. O primeiro e mais contundente é que não há qualquer tipo de reparação ou arrependimento possível. Além disso, é uma expressão de com-pleta falta de crença em uma outra vida, que é um dos pilares fundamentais da fé judaica e uma afronta ao fato de que a decisão de morrer não foi posta em nossas mãos: "Contra sua vontade você nasceu e contra sua vontade você morrerá" (Mishná Avot 4:22).
A respeito da eutanásia ativa, seja voluntária, não-voluntária ou involuntária, a halachá é inequívoca:
"Uma pessoa na categoria de gosses (4) qualquer um que a toque de forma a apressar sua morte é culpado de assassinato. Uma pessoa que mata uma outra, esteja ela sadia ou doente e morrendo, mesmo se matou alguém na categoria de gosses, é punível com a pena capital"(Shulchan Aruch, Ioreh Deah 339:1).
A regra não permite exceções, não importa se o paciente sofre ou mesmo se ele consentiu. A eutanásia passiva é a que nos irá dar mais campo para discussão. Devemos considerar, inicialmente, o seguinte trecho do comentário de Rabi Moshé Isserles (Cracóvia séc. 16) ao trecho anterior do Shulchan Aruch:
"De forma semelhante é proibido fazer com que uma pessoa que está morrendo morra mais de-pressa, como exemplo, um gosses que está assim há muito tempo e não consegue se separar do mundo dos vivos: é proibido remover o travesseiro dele, mesmo que pessoas afirmem que algumas penas de determinadas aves estejam causando tal demora, da mesma forma é proibido movê-lo ou colocar sob sua cabeça as chaves da sinagoga para que ele parta.
Porém, se há algo impedindo que ele parta, seja um barulho perto de sua casa como o de um corta-dor de madeira, seja se colocaram sal sob sua língua, e essas coisas estão impedindo-o de partir - elas podem ser removidas, uma vez que não há um ato voluntário como tal, apenas a remoção do hassarat monea, o obstáculo." (Comentário de Rabi Moshé Isserles ao Shulchan Aruch, Ioreh Deah 339:1)
Perceba-se que a distinção que se faz aqui não é entre um ato e uma omissão e sim entre du-as ações - uma que apressa a morte do paciente e outra que é meramente a remoção, no ambiente onde o paciente se encontra, de algo que impede que a alma do paciente parta. Esta passagem aponta para uma questão extremamente dolorosa para a família de uma pessoa que está morrendo mas cuja morte é impedida pelo uso de máquinas que mantém o corpo funcionando através de respi-ração artificial - é possível desconectá-la? Pela analogia que podemos fazer com comentário de Rabi Moshé Isserles, sim - a partir do momento que se torna claro para os médicos que não há qualquer forma de curar o paciente (5).

É possível cessar o tratamento de pacientes próximos à morte?
Uma autoridade do século 18, o rabino Iaacov Emden escreve em uma responsa que se o paciente sofre de uma doença identificada cujo tratamento é conhecido e testado, os médicos são obrigados a fazê-lo passar pelo tratamento, mesmo que o paciente afirme que prefere morrer a tratar-se - o elemento da dor não é relevante neste caso.
Já no século 20, o rabino Moshé Feinstein legisla que mesmo se só houver uma grande chance de que o tratamento funcione, os médicos estão obrigados a isso e que mesmo se a chance for pequena, mas ela existir, é possível correr o risco para tentar conseguir curar-se. Na mesma corrente, o rabino Shlomo Zalman Auerbach afirma que, se um tratamento que não vai curar um paci-ente mas só prolongar seu sofrimento não pode ser mantido, um tratamento que causa um aumento da dor e do sofrimento deve ser interrompido. Este não é o caso de um estado vegetativo permanente no qual o paciente não sofra e não seja mantido por aparelhos.
Em caso de tratamento com drogas, uma distinção é feita entre o tratamento que tem como objetivo prolongar a vida do paciente ainda que temporariamente e o que tem objetivo de apenas diminuir a dor e o sofrimento. Para o rabino Moshé Feinstein, é preferível o último tratamento, desde que ele não diminua a vida do paciente em nem mesmo um dia (o que levanta questões acerca da permissibilidade do uso de morfina, que diminui progressivamente a capacidade respiratória do paciente).

Quais as conseqüências da aceitação do suicídio assistido?
Ainda que se admita que para alguém considerar a hipótese de terminar com sua vida pre-maturamente ele/a deve estar sentindo uma dor muito forte, os rabinos encaram este ato apenas como mais um tipo de suicídio, apenas agravado pela presença do médico cujo dever é salvar vidas e não apressar seu fim.
Na Holanda, de acordo com o psiquiatra Herbert Hendin onde a eutanásia com o consentimento do paciente não é crime, as distinções entre a real vontade do paciente, a da família, a do médico e a da sociedade se tornam cada vez menos claras. Além disso, a impressão que poderíamos ter é a que a legalização do suicídio assistido afeta apenas quem escolhe morrer, o que é uma falácia pois quem escolhe permanecer vivo não terá a assistência necessária - o que inclui não apenas aqueles sofrendo de doenças terminais mas também os idosos. Todos serão vistos, mais cedo ou mais tarde, como inúteis à sociedade. É muito complexo dar a possibilidade de um ser humano, um médico, decidir qual o valor de uma vida humana. Infelizmente a história humana já viu muitos povos sofrerem com o racismo e a eugenia feita através da eutanásia de deficientes físicos e/ou mentais.
Entre os muitos casos de martírio, o Talmud nos conta da morte de Reb Chanina ben Teradion, executado por romanos. Por ensinar a Torá, algo que era proibido, ele foi morto sendo queima-do vivo amarrado com um rolo da Torá. Seus alunos estavam presentes e perguntaram a ele o que ele via, ao que ele respondeu que enquanto o rolo da Torá se consumia, as letras flutuavam no ar. Seus alunos começaram a pedir que ele inalasse mais e mais a fumaça, de forma a morrer mais de-pressa e sofrer menos e o rabino respondeu: "que Quem me deu a minha alma a pegue de volta - aprendemos que ninguém pode machucar-se propositalmente". Esta, certamente, é a opinião do judaísmo acerca do suicídio.

V - Genética e clonagem
É permitido beneficiar-se das descobertas da engenharia genética e da clonagem?
Pesquisas em genética são, de forma aberta e positiva, aceitas pelo judaísmo - principalmente no que se refere à determinação da paternidade. Já nas fontes mais antigas encontramos al-gum material sobre genética, ainda que não com esse nome mas, certamente, com as regras da ge-nética mendeliana sendo trabalhadas por Jacó (Gênesis 30:22 e seguintes). A hemofilia é descrita com sua transmissão genética no Talmud (Ievamot 64b), onde lemos que os sábios reconheciam que a mãe transmitia a doença mas não sofriam dela. No mesmo trecho, os homens são proibidos de se casarem com mulheres de família de epilépticos, para que a doença não fosse transmitida para as gerações seguintes. O comentarista Rashi expande esta proibição para todas as doenças de caráter hereditário - o que pode representar a primeira forma de eugenia, desta vez possível. De forma completamente divergente do pensamento da idade média, o Talmud já afirma que há três parceiros na criação de um ser humano: Deus, a mulher e o homem, colocando que a mulher e o homem fornecem partes que se complementam para a formação de um corpo (Nidá 31a). Em seu testamento ético, Reb Iehudá o Piedoso (século 10) proíbe casamentos entre primos de primeiro grau e entre sobrinhas e tios, dada a freqüência de nascimento de crianças defeituosas de tais casamentos. Contudo, tais casamentos são expressamente encorajados no Talmud (Ievamot 62b e San'hedrin 76b). O sábio Maimônides reconhece defeitos hereditários e genéticos e afirma não poder curá-los (cf. Mishne Torah, Deot 4:20).
As buscas por tratamentos na área de saúde que aprimorem ou possibilitem a cura de seres humanos são vistas como divinamente ordenadas por vários rabinos. É assim que Nachmânides no século 13, e o Rabino Samsom Raphael Hirsch, no século 19, interpretam o versículo "encham a terra e a dominem"(Gênesis 1:28). Além disso, como alegado pelo Rabino Azriel Rosenfeld (6) , a Torá não proíbe ao processo que não são vistos a olho nu - por exemplo, as leis alimentares não são aplicam a microorganismos. A terapia genética se descoberta como solução para casos como a doença de Tay-Sachs é abertamente estimulada.
Contudo, o rabino Moshé Hershler nos admoesta contra não nos tornarmos completamente cegos pela engenharia genética e pela terapia genética, lembrando que elas não podem ser trata-mentos que diminuam a vida do paciente. Este rabino proíbe a terapia e a engenharia genéticas com base na falta de crença nos caminhos divinos e dá como prova o texto de Levítico 19:19 - "não permitirás que se ajuntem misturadamente os teus animais de diferentes espécies; no teu campo não semearás sementes diversas, e não vestirás roupa de diversas linhas misturadas", mas tal opinião é contradita pela maioria dos rabinos.
Clonagem é um processo até hoje não muito bem claro e que não chegou a ser reprodutível em outros laboratórios que não o inicial (7). Contudo, alguns rabinos já começaram a estudar esta questão e dão alguns pareceres. A priori, o papel do ser humano é melhorar o mundo. Além disso, nada do que não está proibido pela Torá é proibido, contanto que três regras sejam observadas: não pode ser feito caso haja alguma proibição descrita na lei judaica, não pode trazer um resultado irre-versível que seja proibido, o ato deve beneficiar a raça humana como um todo, ou pelo menos trazer mais benefícios do que dano. Não há qualquer ponto que apareça como uma proibição para a clonagem, contudo, a questão do parentesco do clone não está bem definida ainda, bem como o grau de habilidade para a vida (seja o envelhecimento, sejam características psico-biológicas). Não há, pelo judaísmo, qualquer forma de diminuição da fé que depositamos em Deus com a clonagem. Se houver qualquer chance de avanço no tratamento de doenças consideradas fatais, há uma admoestação para que as pesquisas continuem sendo feitas, ainda que in vitro. Pesquisas médicas com seres hu-manos devem ser cercadas de todas as precauções possíveis para que não sejam transformadas em mera manipulação de cobaias.

Conclusões
Mais do que um trabalho técnico, pretendemos indicar que a ética judaica permeia as decisões rabínicas em todas as questões apresentadas. Além disso, onde foi possível fomos buscar as fontes exatas das citações apresentadas na bibliografia. Pedimos desculpas nos trechos que, eviden-temente, isto não foi possível.
Gostaríamos de notar que, apesar da ética, a vontade do paciente não tem um grande peso quando se trata de casos de salvar a vida e sua autonomia nas decisões é bastante pequena. O suicí-dio assistido é, como todo suicídio, visto como até pior que o homicídio dado que não há qualquer possibilidade de arrependimento por parte do falecido. O ponto de partida do judaísmo é a santificação da vida enquanto feita à imagem de Deus e o conseqüente dever de preservar a vida. O limite desse dever é dado quando o paciente está próximo do fim e seus últimos momentos são de dor e sofrimento - eles não devem ser agravados.
Esperamos e pedimos que não seja remoto o momento no qual todos os seres humanos sejam agraciados com boa saúde e bom entendimento para que questões como essas não sejam mais relevantes.

NOTAS
(1) Rabino Eliezer Waldenberg, Tsus Eliezer vol. 9:45 (1967)
(2) Como o R. Moshe Feinstein.
(3) Como o R. Eliezer Waldenberg.
(4) Lit. em processo de morte. Há uma discussão entre os rabinos sobre qual a condição mínima para que o paciente seja considerado neste estado - uma visão mais estrita é a do rabino Bleich, que afirma que isto apenas acontece quando o paciente tem, de acordo com a opinião médica, três dias de vida. Já o rabino Ovadia Hadava, que serviu na Corte Rabínica de Apelos em Israel, tem uma posição muito mais leniente: o processo começa quando o paciente foi diagnosticado como terminal e tem dor.
(5) O rabino-chefe da cidade de Tel Aviv, Haim David Halevi afirma que, inclusive, somos obrigados a fazê-lo. O mesmo afirma um famoso halachista, Rabino Waldenberg.
(6) Judaism and Gene Design, Tradition (NY) vol. 13, 1972, pp.71-80, in: Rosner, op.cit.
(7) Em fevereiro de 1997, a ovelha Dolly nasceu no laboratório do dr. Ian Wilmut, no Roslin Institute of Scotland.

BIBLIOGRAFIA
01) EISENBERG, D. - Abortion and Halacha in: Maimonides: Health in the Jewish World, Vol. 2, No. 1 (Spring 1996).
02) ------. The Role of a Physician in Jewish Law in: Maimonides: Health in the Jewish World, Vol. 2, No. 2 (Summer 1996).
03) ------. The Ethics of Cloning in: Maimonides: Health in the Jewish World, Vol. 3, No. 3 (Fall 1997).
04) ------. Multifetal Pregnancy Reduction in Jewish Law in: Maimonides: Health in the Jewish World, Vol. 4, No. 1 (Winter 1998).
05) ------. The Sanctity of the Human Body in: Maimonides: Health in the Jewish World, Vol. 3, No. 3 (Spring 1998).
06) ------. Risky Medical Treatment In Jewish Law in: Maimonides: Health in the Jewish World, Vol. 4, No. 3 (Fall 1998).
07) ------. Artificial Insemination In Jewish Law in: Maimonides: Health in the Jewish World, Vol. 4, No. 3 (Fall 1998).
08) HENDIN, H. Seduced By Death: Doctors, Patients, and the Dutch Cure. Norton publishers, NY. 256 pp.
09) ISRAELI, S. Organ Transplantation: Halachic Questions and Responsa in: Assia - Jewish Medical Ethics - Vol. III, No. 1 - January 1997.
10) LIPNER, A. Of Life and Death: A Jewish Response to Doctor Assisted Suicide. Viewpoint: National Council of Young Israel, Winter 1996.
11) NEEMAN, Y. Be'tzelem Elohim - In God's Image: Euthanasia - the Approach of the Courts in Israel and the Application of Jewish Law Principles - palestra proferida no Institute for Jewish Medical Ethics e publi-cada no site: http://www.ijme.org/.
12) NEWFIELD, P. Euthanasia, Physician Assisted Suicide and the Dying Patient: Medical Status - palestra proferida no Institute for Jewish Medical Ethics e publicada no site: http://www.ijme.org/.
13) ROSNER, F. Judaism, Genetic Screening and Genetic Therapy - palestra proferida no Institute for Jewish Medical Ethics e publicada no site: http://www.ijme.org/.
14) STEINBERG, A. Human Cloning - Scientific, Moral and Jewish Perspectives - palestra proferida no Institute for Jewish Medical Ethics e publicada no site: http://www.ijme.org/.
15) STEINBERG, A. & LOIKE, J. Human Cloning: Scientific, Ethical and Jewish Perspectives in: Assia - Jewish Medical Ethics - Vol. III, No. 2 - January 1998.

© Nelly de Souza Lopes - 2001
Nelly de Souza Lopes
Professora de Judaísmo na Congregação Israelita Paulista

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Fonte:
http://www.estudosjudaicos.com/menu/artigos/artigos_bioetica.html

segunda-feira, 12 de março de 2012

Comer Sangue: O Que a Bíblia Ensina?


Deus proibiu definitivamente comer sangue em todas as épocas. Nos dias logo após o dilúvio, o Senhor disse: "Pavor e medo de vós virão sobre todos os animais da terra e sobre todas as aves dos céus; tudo o que se move sobre a terra e todos os peixes do mar nas vossas mãos serão entregues. Tudo o que se move e vive ser-vos-á para alimento; como vos dei a erva verde, tudo vos dou agora. Carne, porém, com sua vida, isto é, com seu sangue, não comereis" (Gênesis 9:2-4). Na lei de Moisés, Deus simplesmente ordenou: "Qualquer homem da casa de Israel ou dos estrangeiros que peregrinam entre vós que comer algum sangue, contra ele me voltarei e o eliminarei do seu povo. Porque a vida da carne está no sangue. Eu vo-lo tenho dado sobre o altar, para fazer expiação pela vossa alma, porquanto é o sangue que fará expiação em virtude da vida" (Levítico 17:10-12).

domingo, 11 de março de 2012

A Mulher e o Santuário

Por Tali Loewenthal


O propósito da Criação é o de que a presença do Divino será revelada neste mundo. A primeira expressão disto aconteceu no Jardim do Éden, como nos é contado no início da Torá. Adão e Eva habitaram o Jardim e, junto com eles, estava a Presença de D’us. Entretanto, o mundo ainda não estava pronto para isto.

Como sabemos, Adão e Eva pecaram ao comerem da Árvore do Conhecimento e, conseqüentemente, a Presença de D’us tornou-se oculta. Outros pecados nas gerações seguintes, tais como a morte de Abel por Cain, fizeram a Presença Divina tornar-se ainda mais oculta. Entretanto, com Abraão, iniciou-se o processo de trazermos de volta, para este mundo, a Presença Divina. Isto foi continuado por Isaac, Jacó e as gerações seguintes.

Na sétima geração depois de Abraão, veio Moisés. Os Sábios nos dizem que o “sétimo” tem uma grande probabilidade de sucesso. Isto é demonstrado pelas conquistas de Moisés. Seguindo as instruções de D’us, ele guiou o povo Judeu na construção do Santuário onde a Presença Divina foi revelada, no Santo dos Santos. Esta foi a primeira expressão do cumprimento do objetivo da Criação. Um estágio adiante seria a construção do Templo em Jerusalém. Então, infelizmente, veio a destruição. O segundo Templo foi construído e novamente foi destruído. Com a vinda do Mashiach, finalmente o Terceiro Templo será construído em Jerusalém. Isto trará profundas e positivas modificações em todo o mundo.

O fato de que a Presença Divina habitou o Santo do Santos não era nada separado das vidas do povo Judeu. A Parashá 1 nos diz: “Eles construirão para Mim um Santuário, e Eu habitarei neles”. Os Sábios nos ensinam que isto significa: “Dentro de cada indivíduo” 2. Através da construção do Santuário, D’us habita o coração de cada pessoa.

O Rebe de Lubavitch indica que as mulheres tiveram uma participação particularmente significativa na construção do Santuário 3. As mulheres estavam mais entusiasmadas que os homens em trazer doações de ouro, prata, cobre, lã colorida, linho, pedras preciosas e tudo mais que era necessário. Elas usaram seus dons artísticos em várias tarefas de tecelagem. Além disso, diferentemente dos homens, as mulheres foram totalmente contrárias à construção do Bezerro de Ouro. A construção deste ídolo e a maneira repugnante com a qual ele foi idolatrado eram totalmente opostos a tudo que era expresso pelo Santuário e pela Presença do Divino.

Em nossos tempos, a mulher também tem um papel de liderança na criação de um outro tipo de Santuário: o Lar Judaico. Aqui, também, habita a Presença de D’us. Os ensinamentos da Torá mostram a maneira pela qual o Divino pode estar presente em cada detalhe da vida humana, desde o mais público até o mais íntimo.

Este poder espiritual do caráter feminino está relacionado à ideia cabalística de que a mulher tem uma afinidade com o sétimo atributo Divino, Malcut (Reinado), que significa conclusão, realização e cumprimento no mundo material. Colocado em termos mais tangíveis, como expresso pelo Rebe, existe uma sensibilidade dada por D’us à mulher que a faz reconhecer o positivo e o sagrado, que cada um deveria se esforçar para suportar; e esta especial qualidade também detecta aquilo que é profano e deve ser evitado.

Claro que esta sensibilidade precisa ser criada: através do estudo pessoal da Torá e pela observância prática dos Mandamentos. Com isto, mulher e homem juntos, com suas famílias, revelarão a Presença do Divino em seus próprios lares, em sua vizinhança e, finalmente, de uma forma global. Haverá o Terceiro Templo em Jerusalém e a paz verdadeira habitará os corações de toda a humanidade.
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NOTAS
1. Êxodo 25:1-27:19. Ver 25:8.
2. Ver o discurso Bati LeGani, ch.1, do R. Yossef Yitschac Schneersohn.
3. Ver Likutei Sichot do Rebe vol. l l, p.315, vol. 16, p.606.



Por Tali Loewenthal
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Brit Milá na Amazônia


Não é todo dia que duas pessoas decidem fazer Brit Milá na Amazônia. Mas no final de fevereiro isto de fato ocorreu. Isaac Portela, com 41 anos e Saatchel Benesby, de 16, viajaram de Porto Velho a Manaus a fim de serem circuncidados pelo famoso Mohel da Argentina, David Katche.

Tudo começou através de uma visita realizada pelo sheliach (emissário) de Manaus, rabino Arieh Raichman, à vizinha cidade amazônica de Porto Velho, há um ano: "Quando cheguei em Porto Velho e visitei a comunidade local, eles estavam todos muito animados para me conhecer. Alguns choraram de emoção, enquanto outros estavam em êxtase por ser o primeiro rabino a visitá-los. Ao encontrar Isaac, ele me disse que queria ser circuncidado: ‘Se surgir a oportunidade de fazer o Brit, me chame e eu vou estar lá no mesmo dia.’ Durante essa visita, também conheci Saatchel e sua família. No entanto, ao falar sobre a possibilidade de ter um Brit Milá, a possibilidade não o empolgou muito. Não era o momento certo…”

Há poucos dias, Manaus teve a oportunidade de receber o famoso David Katche, Mohel especialista em adultos, já tendo realizado mais de 11 mil circuncisões em toda a América do Sul. Há apenas quatro meses ele realizou seis Britot em adultos em S. Paulo. O evento foi organizado pelo rabino Noach Gansburg, diretor do Centro Novo Horizonte. Dois participantes deste evento incrível eram de Manaus. No entanto, desta vez o Mohel veio a Manaus dando oportunidade a todos os judeus que ainda não tinham o Brit Milá, de realizá-lo. Para isto viajou 16 horas no total da rota Buenos Aires-Manaus-Buenos Aires, tendo permanecido em solo amazônico por um dia e meio.

Saatchel recentemento participou de um Shabaton em S. Paulo, organizado pelo Neor Keren Menachem e voltou para casa animado sobre Judaísmo. Desta vez, quando perguntado sobre fazer o Brit Milá, ele respondeu positivamente. Dentro de um dia, um voo para Manaus foi organizado e ele, acompanhado por sua mãe foram direto ao hospital recebendo o nome de Moshe Chaim em seu brit milá. Sua mãe comentou: "É uma obrigação de todo homem judeu. Eu estou muito feliz por meu filho. Quando ele nasceu fui buscar médicos em Porto Velho para fazer sua circuncisão, mas ninguém quis vir. Agora ele concretizava este desejo, não só isto como através de um mohel!” Katche ficou muito impressionado com a extrema limpeza e organização do hospital. O próprio administrador do local, mesmo não sendo judeu, simpatizava muito com a ideia de poder ajudar o povo judeu a realizar esta cerimônia, cedendo uma sala cirúrgica e assistência médica gratuitamente.

Tudo estava pronto e a circuncisão estava para ter início quando fui chamado por Saatchel. Estava nervoso e indeciso. Em lágrimas desabafou que não seria capaz de ir adiante. O Yetser Hara, o mal instinto, sabendo da grandeza de uma mitsvá faz todo o possível para atrapalhar e impedir sua realização, criando dúvidas na mente da pessoa. Conforme é conhecido, o mohel, costuma ficar a noite inteira acordado estudando certas partes do Zohar justamente a fim de proteger a criança contra o Yetser Hará. Falei com o jovem tentando acalmá-lo por cerca de 15 minutos ao lado do medico que fez o mesmo. A mãe permanece sozinha com ele por 20 minutos. Todos aguardando. De repente Saatchel abre a porta e num só folego fala: "Vamos fazer agora, antes que eu mude de ideia!." O procedimento é realizado e durante o mesmo Saatchel permanece completamente relaxado.

Isaac Portelo tornou-se líder da comunidade judaica em Porto Velho recentemente, após dois de seus últimos líderes terem feito aliyah. Ele assumiu a responsabilidade pela comunidade composta por menos de 15 judeus. Isaac determinado a realizar seu Brit cancelou todas as reuniões e programou sua viagem para Manaus. Mesmo tendo perdido seu voo, ele fez todo o possível para chegar no dia seguinte. Recebeu o nome de Isaac Yoel, e celebrou seu Bar Mitsvá dias depois, em um Shabat. Na Seudat Mitsvá, fez um L'Chaim e disse: "Agora eu sinto que um grande fardo foi tirado das minhas costas. Um verdadeiro alívio. Sempre senti que algo estava faltando... "

Hoje há mais 20 pessoas em Manaus que precisam ser circuncidados, compreendendo uma faixa que vai dos 6 meses aos 72 anos de idade. Os motivos pelos quais ainda não realizaram seu brit milá são: seus pais desconhecem a mitsvá (é bom lembrar que estamos falando da Amazônia); não tinham como conseguir um Mohel e, embora nascidos de mães judias, os filhos seguiam a religião não judaica dos pais.
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